sábado, 19 de setembro de 2015

Lembranças



Fim dos anos 60... início de 70...Uma sala de aula num cursinho qualquer...jovens animados, turma alegre, tudo que queriam é ser Feliz, Paz e Amor era o lema...rapazes de camisa vermelha, meninas de mini saia...com idéias ripes na cabeça...Época que o Rock and Roll explodia no País,  belas canções italianas e francesas com seu toque romântico, tipo Je T'aime , e outras que deixavam os jovens da época explodindo em sentimentos explícitos e alguns mais discretos, se deixando levar por paixões que talvez, guardem dentro do peito até os dias atuais, embora os caminhos tenham seguido rumos inesperados ....Essa história que vou contar, é justamente de um desses rapazes ...

Ronaldo, no auge dos seus 16 ou 17 anos, magro, alto, bonito,  olhar tristonho, sorriso largo, sincero,  em meio algumas espinhas que ainda restavam em seu rosto de sua adolescência que findava....Estava ele justamente na transição de menino - homem...e não se sabe porque, fazia parte daquela turma de estudantes, na maioria mais velhos que ele...este homem - menino se encantou por uma colega de curso..
.Ana Maria,  já uma mulher quase feita, uns 3 ou 4 anos mais velha que ele, porém apesar de ainda jovem , ja trazia consigo uma bagagem de menina pobre do interior que tinha que lutar pra sobreviver...e no coração,  o sonho de ser Feliz....
Sem perceber, ela também se encantou por Ronaldo...Daí passou viver um grande conflito em seu coração, visto que ela ja tinha um meio compromisso com um rapaz, bem mais velho que ela, que com sua experiência de homem vivido, Antônio já a controlava, indiretamente, e acabou se casando com ela...
.Bem, na rotina do dia a dia, Ronaldo sufocado pelo sentimento da paixão, toda noite, ou quase todas, esperava  por sua amada, na entrada da rua onde moravam, e  acompanhava encantado, Ana Maria até sua casa....Ela amava esse gesto dele, e dormia toda noite sonhando com aquele rapaz de poucas palavras, mas de olhar  penetrante que ia  ao fundo de  alma  Ana Maria...mas lá estava o tal do Antônio dominando toda situação...e ela por sua vez, obedecendo...jamais ela ia se declarar ao Ronaldo...menino bonito, que mexia com ela...mas ....

Num dia qualquer, a turma do curso marcou um passeio, meio rústico...Ana Maria não curtia nada disso, mas amava sua turma do cursinho, com ela podia se dividir e soltar, sem  repressão....e lá se foram...
Foi até legal... só que lá,  enquanto Ronaldo olhava pra ela com o olhar de desejo de um jovem cheio de vida e vontades secretas, ela preferiu ficar com outro colega...assim não ia decepcionar Ronaldo, já que na  vida dela existia o Antonio....Não podia decepcionar aquele menino de sentimentos puros e sinceros..
 O tempo passou.,.Ana Maria  se casou com Antonio.., Ronaldo também se casou com outra mulher...tiveram filhos e muitos anos depois, por circunstâncias da vida, lá estava ela frente a frente, olho no olho  com  Ronaldo....
.Passado a emoção do encontro, ela já desinibida pela vida por tantas e tantas que sofreu, disse...Olá como vai? quanto tempo! ... tentando manter a naturalidade .e ele, Ronaldo, olhando dentro dos olhos dela disse:  me lembro do nosso passeio do curso e você ficou com o Carlito, nosso colega...mas eu não esqueci até hoje de tudo que vivemos.....
e ela pensou:  como a vida é ingrata, injusta...amei e desejei este homem, que lá atras era apenas um menino e eu por preconceito e por estar presa a outro homem, não tive coragem e assumir aquele " menino homem ou homem menino...que talvez fosse o homem da sua vida,, visto hoje, ela vive  só e ele está lá com sua vida concreta, com sua família......enfim... ela só pode  desejar que ele continua sua felicidade familiar.. e ela  rsrs... seguir  sua vida... não é infeliz, apenas não sabe , nunca soube o que é ser feliz com alguém que você amou por toda vida,....


domingo, 13 de setembro de 2015

Pedro "Boi" e Tereza


Não sei nem imagino porque ele era chamado de "Pedro Boi"..Quem sabe lá em sua infância, ou adolescência lá no canto da fazenda onde nasceu e foi criado, cuidasse de uma boiada...Era comum naquela época os "meninos candeeiros", garotos que seguiam a frente dos carros de boi, ou então seguiam os bois para o curral, no fim da tarde, correndo e gritando atrás dos bois, que brincavam, e corriam pelos pastos, fazendo aquele menino, ir e voltar várias vezes com uma vara de vassoura do mato na mão...as vezes era até engraçado...
Bem , só se sabe mesmo dele este nome esquisito, Pedro, nome até bonito, nome de Santo, mas apelido Boi?,... se fosse casado diria que talvez em algum dia um chifre lhe pesasse a cabeça...nada disso e também não importa... poderia até chamar Pedro Paulo, nome de dois Santos...
Dia de festa na fazenda...aniversário do Fazendeiro,, Dr Fernandinho Neto, que herdara a fazenda que pertenceu ao seu Avô, velho chato, autoritário e carrancudo, passando por seu pai Dr Fernando Filho, que morrera há alguns anos, sabe-se lá de que, talvez de um infarto fulminante...
Dr. Fernandinho em todo seu aniversário, promovia na fazenda, uma grande festa ... ainda ao amanhecer, tão logo o galo cantava, começava o alvoroço... Eram abatidas 2 ou 3 novilhas, porcos, frangos, patos e até marrecos... Era festa, dia de fartura, comelança e muita cachaça, daquela boa que era curtida ali mesmo na fazenda.....na cozinha muito movimento, pacotes e pacotes de macarrão, ao molho de massa de tomate, coberta com queijo ralado, panelões de arroz,  farofas e carne de todos jeito...na brasa, no cozido, etc..,..Dava água na boca, aquele cheiro de costelinha de porco fritando, torresmo, tutu de feijão bem a moda mineira...Tudo de primeira qualidade, afinal, o Patrão, era gente boa..seu prazer era ver neste dia, seus piões e famílias beberem, comerem e dançarem...
Sim lá no canto em baixo de um grande toldo, armado nos terreiros da fazenda, estavam 2 sanfoneitos dos melhores da redondeza e ali o forró, rolava o dia todo..
Muita alegria...já pelo fim do dia Pedro Boi, como todos os outros companheiros, já meio bêbados, pança lotada, de tanta comida, ...olha para o lado e lá no fundo avista uma moça, de pele branca, sedosa, com longos cabelos negros e ondeados caindo-lhe pelos seus ombros, como água em cachoeira...Pedro ficou algum tempo parado, fitando aquela mulher de corpo escultural, dentro de um elegante vestido com estampas em flores coloridas, que logicamente não era um tecido vagabundo, ou uma chita,...ela falava alegremente com outras moças e ria e a cada riso seus cabelos balançavam como uma dança ensaiada...Pedro boi, sem saber o que fazer, mesmo sem perceber,  foi lentamente se aproximando e ao chegar mais perto..ouviu quando a moça disse:  meu nome é Tereza,  moro em Paris e todo ano venho pra Festa de Aniversário do meu Pai.....
Pedro Boi, baixou a cabeça, olhou pra suas roupas surradas, aquela calça de linho velha e amarrotada que havia herdado de um tio, e sem sentir as pernas pelo nervosismo e pelo efeito da cachaça,, foi se afastando lentamente, sentou-se em baixo de uma jaqueira no fundo quintal e ali ficou pensando, pensando até adormecer....
Quando acordou já era dia e sua "Tereza" ja havia sumido junto de todos que alí estavam...pegou seu velho chapéu de palha, colocou na cabeça e voltou para seus afazeres de todo dia....
Quem sabe no próximo ano, possa pelo menos receber um sorriso de Tereza.

sábado, 12 de setembro de 2015

Cotidiano



Fim de tarde...inverno...frio...chuva fina...uma neblina que veste o ar com uma intensa e nebulosa fumaça, tornando o  tempo feio com cara de tristeza, trazendo melancolia para cada coração...
É uma cidade cinza, cinzenta, uma sensação pesada, que não se aguenta...
O barulho que se ouve, são dos carros que passam fechados, trancados...e o ronco dos motores dos ônibus que vão e vem, com motoristas mal humorados e passageiros mal amados...
Na rua, as pessoas empacotadas em seus pesados  casacos de lã, cheirando a mofo de gavetas ou naftalina, misturados a perfumes baratos, que impregna o ar,  tornando-o mais pesado do que está..
E elas andam apressadas pra lá e pra cá, molhadas da chuva fina que cai...e lá vão atropelando a todos que correm não sei pra onde, nem pra que...
Devem ir para suas casas, onde vão jantar o ,ovo frito, mal passado, com pão e mortadela, ou uma massa com salsicha sem tempero....Daí um banho mal tomado, afinal a conta de luz ta pela hora da morte...tem que economizar no banho....
Respira fundo, veste uma camiseta velha, não tem pijama mesmo...Olha a má noticia na TV, e se joga na cama...e la vem ele que também se joga em cima dela como um peso morto e ela lhe abre as pernas sem vontade...ali em baixo daquele corpo pesado , mas tem que atender ao instinto masculino que se bate sobre ela, com força e sem pudor, até soltar o líquido fétido..urrando como um bode velho, se joga para o lado, suado , e ronca desmaiado....

Amanhã, tudo recomeça...Tudo de novo...Maldita rotina...Cotidiano da vida.